O líder global de entrega, Meituan, iniciou os procedimentos a operar no Brasil até o final de 2025. O movimento do gigante chinês, avaliado em US $ 46 bilhões, acende um alerta para o iFood, que atualmente possui mais de 80% do mercado de entregas brasileiras.
Com uma presença consolidada em seu país de origem e um desempenho diversificado que vai além da entrega de refeições, a entrada de Meituan pode mudar drasticamente o cenário nacional.
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O que está em jogo no mercado de entrega brasileiro

Uma estrutura ainda concentrada
O setor de entrega no Brasil passou por grandes transformações nos últimos anos. De um modelo analógico e limitado, o país migrou rapidamente para plataformas digitais, impulsionado por mudanças no comportamento do consumidor e avanços tecnológicos. Ainda assim, o mercado permanece concentrado: o ifoodControlado pelo prosus holandês, reina quase absoluto.
Outros gigantes internacionais já demonstraram interesse, mas enfrentaram dificuldades para se manter. Glovo e Uber comem, por exemplo, tentaram ganhar espaço, mas acabaram deixando o Brasil diante de uma forte concorrência e a necessidade de alto investimento operacional. A entrega de James foi outro caso emblemático de retração.
A tentativa de Doordash de comprar Rappi em 2023 também reforça o interesse externo no mercado brasileiro, embora a negociação não tenha dado diferenças estratégicas.
Meituan: muito além da entrega
Fundada em 2010 por Wang Xin, a Meituan é considerada o maior aplicativo de serviço da China. Seu escopo vai muito além da entrega de alimentos: a empresa oferece serviços de mobilidade urbana, reserva de hotéis, compra de ingressos e até agendar compromissos médicos. O conceito de integração total, típica do mercado chinês, é um diferencial que pode mudar o jogo no Brasil.
De acordo com Leandro Guissoni, professor da FGV e da Universidade da Virgínia, a chave para a revolução em aplicativos de entrega é desacoplarou desacoplar. O termo, Brother – -In -Law na Harvard Business School, descreve o processo de inicialização que remove as atividades exaustivas da jornada do cliente e oferece soluções mais convenientes e digitais.
“A revolução digital eliminou o que antes era um mal necessário: ligue, pague em dinheiro, espere sem saber onde estava o pedido. Os aplicativos resolveram isso, mas hoje, para permanecer competitivo, é preciso mais: integração, dados e conveniência total”, diz Guissoni.
A verdadeira ameaça para ifood
Meituan traz um novo padrão de competição
O modelo chinês de super aplicativos ainda rastreia no Brasil. A Meituan, se trazer seu portfólio completo, pode desafiar não apenas os jogadores de IFood, mas também de mobilidade, hospedagem e turismo. No entanto, mesmo sem essa amplitude inicial, sua experiência tecnológica, o uso de inteligência artificial e gerenciamento de ecossistemas podem estabelecer novos padrões de competição.
A própria Prosus, proprietária da IFOOD, tem cerca de 4% das ações da Meituan. O relacionamento, por mais indireto que possa parecer, mostra que os caminhos das duas empresas podem atravessar de uma maneira estratégica ou conflitante.
Riscos e oportunidades para o consumidor
A entrada Meituan pode estimular a reestruturação do setor, promovendo mais inovação e redução de preços, além de melhorar a experiência do usuário. No entanto, alerta que isso depende da capacidade da empresa de se adaptar à realidade brasileira:
“Deve -se entender que o sucesso na China não garante sucesso aqui. Meituan terá que estudar preferências do consumidor, desafios logísticos e até as especificidades regulatórias do país”.
Se for bem -sucedido, o movimento de Meituan pode fortalecer o conceito de Super App No Brasil – um aplicativo que une vários serviços em uma única interface. Como resultado, os consumidores podem ter acesso a alimentos, transporte, compras e entretenimento em um só lugar.
O futuro da entrega no Brasil

Novas direções para um mercado em expansão
De acordo com dados do primeiro semestre de 2024, o setor de entrega foi responsável por uma fatia crescente de consumo urbano, especialmente o segmento de alimentos e mercado. A tendência é para o crescimento, mas também de sofisticação.
A chegada de Meituan coloca a necessidade de uma maior digitalização do setor, com dados intensivos e tecnologia para aumentar a eficiência e a personalização dos serviços oferecidos.
Além disso, o movimento pode beneficiar os restaurantes e a entrega, que ganham com a diversificação de demanda e plataformas. O consumidor, por sua vez, se torna o maior beneficiário em um cenário de competição maior.
Logística e desafios culturais
O Brasil impõe desafios logísticos complexos. Da infraestrutura rodoviária a problemas de segurança e custos operacionais, qualquer novo jogador precisa estabelecer uma operação robusta para competir com empresas estabelecidas.
A Meituan, com seu modelo de sucesso na China, terá que adaptar sua operação ao perfil brasileiro do consumidor, que tem hábitos diferentes e seus próprios desafios.
Considerações finais
A entrada de Meituan no mercado brasileiro é um movimento que promete sacudir estruturas e redesenhar as regras do jogo no setor de entrega. Ainda é cedo para dizer se o gigante chinês será capaz de quebrar o iFood, mas sua chegada marca o início de uma nova fase de competição, inovação e transformação digital no Brasil.
Seja como um concorrente direto, como catalisador de uma nova mentalidade de negócios, a Meituan tem o potencial de inaugurar a era dos super aplicativos no país – e, assim, mudar a vida cotidiana de milhões de consumidores brasileiros.
Imagem: MIT Technology Review/Reproduction